Matéria O GLOBO: “Cineastas questionam política de investimentos da RioFilme”
30/08/2010 às 1:19 | Publicado em Uncategorized | 1 ComentárioTags: notícias
Por Rodrigo Fonseca
RIO – Criada em 1992, dois anos após a dissolução da Embrafilme, como veio de escoamento para a produção audiovisual, a RioFilme virou o alvo do descontentamento de uma parcela da classe cinematográfica. Nessa parcela estão o produtor Luiz Carlos Barreto e os cineastas Tetê Moraes, Jorge Durán, Helena Solberg, Oswaldo Caldeira, Rose Lacreta, Carolina Paiva, Sandra Werneck, Ana Maria Magalhães, José Joffily e Domingos Oliveira, que se reuniram no fim da semana passada para discutir a gestão de Sérgio Sá Leitão. Atual diretor-presidente da distribuidora, Sá Leitão tem associado a empresa, outrora ancorada a projetos autorais independentes, a longas-metragens mais competitivos comercialmente, como a comédia dramática “Divã” (vista por 1,8 milhão de pagantes em 2009) e ao aguardado “5xFavela, agora por nós mesmos”, que estreia nesta sexta. A associação a potenciais blockbusters leva uma ala do setor a questionar a vinculação da distribuidora, fundada pela Prefeitura do Rio, a projetos mais ligados a ambições mercadológicas do que à invenção narrativa (portanto capazes de sobreviver sem o aporte municipal). Cobram ainda a criação de editais de fomento à produção.
– Não se trata de uma luta contra ninguém, mas uma crítica muito clara a uma política de uma empresa pública – diz a documentarista Tetê Moraes, diretora da Associação Brasileira de Cineastas (Abraci). – O que desejamos é que haja mais transparência, editais com regras claras e comissões de seleção formadas por várias pessoas. A RioFilme não pode ser dirigida como uma empresa privada. Ela definitivamente não é um banco, é uma empresa pública municipal ligada à Secretaria municipal de Cultura.
– Estamos diante de uma gestão dirigista. Há um tipo de cinema que o Sérgio apoia: o de mercado, como se ele tivesse a fórmula do que vai dar certo – protesta Domingos.
Como estopim das queixas do grupo, estava o investimento em “As melhores coisas do mundo” de Laís Bodanzky, uma diretora paulista, que filmou em São Paulo, sendo distribuída por uma companhia de matriz estrangeira, a Warner Bros. Por e-mail, diretores como Silvio Tendler entram na discussão:
– Estamos diante de uma política que se resume a parcerias com as majors americanas. É daí que Sérgio tira o sucesso da RioFilme – diz Tendler, referindo-se ao fato de que, de 2009 até agora, a RioFilme se tornou a terceira maior distrisbuidora nacional, atrás da Downtown e da Imagem.
– O Rio sempre foi um polo de produção expressivo. Com uma reserva de mercado, produziríamos cem vezes mais – crê Barreto. – Mas a RioFilme parece mais preocupada em ser um biombo para uma picaretagem chamada “Rio, eu te amo” (produção internacional com diferentes cineastas filmando episódios na cidade), uma ideia que já foi feita antes por Carlos Hugo Christensen (argentino aqui radicado que rodou “Esse Rio que eu amo”, em 61).
– Nosso cinema carece de um trabalho de formação de plateia. Uma distribuidora comercial, sem vínculos públicos, não precisa ter esse trabalho: quer apenas filmes que se vendam. Mas esse não é o perfil de uma empresa pública – diz Ana Maria Magalhães.
Procurado pelo GLOBO, Sérgio Sá Leitão se defende:
– Para realizar seus objetivos estratégicos, a RioFilme precisa agir como uma empresa, não como uma secretaria ou uma autarquia. Podemos ter receita e elevar o bolo para investir mais. Não faz sentido usar uma empresa para fazer fomento a fundo perdido, como querem alguns. Seria o meio errado. O público dos sete filmes lançados pela RioFilme em 2009 foi 71 vezes superior ao dos sete lançados no ano anterior, passando de 28 mil para quase dois milhões de espectadores.
Há quem apoie sua gestão:
– A RioFilme, parceira essencial na produção do Festival do Rio, passa por uma reconstrução, que a liberta de um perfil político assistencialista – diz Walkiria Barbosa, produtora de “Divã”. – Sérgio está buscando no mercado meios de a empresa resistir: seus recursos vêm do resultado dos filmes. Numa indústria, nada que se calce só em dinheiro público avança.
Matéria publicada no Jornal O Globo em 25 de agosto de 2010
1 Comentário »
RSS feed for comments on this post. TrackBack URI
Deixe um comentário
Blog no WordPress.com.
Entries e comentários feeds.
Uma pena os Senhores Produtores terem levado tanto tempo para enchergar o que vinha pela frente na sucessão da diretoria da RIOFILME em 2009. Acho que se for feita uma pressão ENORME sobre o Prefeito Eduardo Paes, a entidade estará bem próxima do mesmo destino da EMBRAFILME. Enquanto filme de outras distribuidoras recebem fantásticas furtunas de investimento alguns filmes não muito expressivos, mas de qualidade cultural relevante, amargam falta de investimento. MÃOS A OBRAS, Senhores Produtores, abaixo a gestão individualista de SERGIO SÁ LEITÃO.
Comment by Helen Pereira Ludovico— 15/09/2010 #